Era uma vez uma escrava chamada Catirina que estava grávida e teve um desejo atroz de comer língua de boi. Seu marido, Nego Chico, não queria matar uma rês do patrão. Mas Catirina disse que perderia o nenê se não comesse. Nego Chico matou o melhor boi do fazendeiro, que se enfureceu e mandou os índios darem uma tremenda surra de toalha no escravo. Aplicado o castigo, chegam curandeiros indígenas que receitam estranhos remédios ao infeliz – como cheirar o rabo do animal morto e dar três pulinhos. De quebra, ressuscitam o boi (lembre-se, isso é um mito). No final, o culpado é perdoado e todo mundo comemora.
Esta é a história contada na festa do bumba-meu-boi, em geral celebrada em junho. Ninguém sabe muito bem quando surgiu, mas espalhou-se pelo Norte e Nordeste. “O primeiro registro é uma notícia de jornal do Recife, de 1840”, conta a antropóloga Maria Michol de Carvalho, pesquisadora do folclore em São Luís, no Maranhão, onde o evento é mais importante do que o carnaval. No século XIX, só escravos celebravam e o tom da festa era caricato, ironizando os senhores e criticando a desigualdade das relações raciais. Por isso, chegou a ser proibida. Hoje, é reconhecida como uma das mais interessantes expressões culturais brasileiras.
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